sábado, 28 de julho de 2012

Cicatrizes

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Releio certos poemas meus como quem acaricia cicatrizes
São marcas de sentimentos fracassados
Histórias de batalhas perdidas

Tateio cada uma delas
Às vezes um gosto amargo invade minha boca
Noutras vezes, lágrimas ameaçam meus olhos
Ocasionalmente um sorriso tímido aparece no fundo de meu coração

Releio certos poemas meus como quem acaricia cicatrizes
Rostos que gostaria de esquecer me perseguem
E outros que gostaria de lembrar me escapam

Deslizo suavemente minhas mão sobre eles
e assustado percebo que alguns ainda não são cicatrizes
Alguns ainda são ferimentos abertos,
emoções quentes e intensas sangrando por elas

Fico em silêncio,
releio a poesia
e torço para que cada leitura seja menos dolorosa




quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ícaro



Fast poetry
(Escrito em um ônibus após um dia muito ruim)
Acho que não é bem poesia. Acho que está mais para prosa querendo ser poesia.


Ouço o som bruto e seco de asas partindo-se.

Elas se despedaçam lentamente
Eu já sentia o calor doce do sol,
já percebia as promessas profundas da Liberdade.

Havia tantas promessas em mim;

Havia tantos sentimentos poderosos;
Havia tanto Amor não partilhado;

Pronto. Lá se foi outro tanto da asa direita.

O céu permanece teimosamente azul ao redor de minha queda.
Terrível cair cercado de tanta beleza.

Agora outro pedaço da asa esquerda.

Caio, mas não sei se caio porque a cera derreteu,
ou caio porque a Esperança de voar se foi.

De fato caio.

Minhas asas partidas agora apenas pendem de mim como sonhos fragmentados.

O mar se aproxima.


Apenas fechos os olhos e lembro-me do sorriso de uma moça que conheci certa vez.

Um sorriso que me fez acreditar em coisas impossíveis.
Imagino que vou me afogar naquele sorriso eterno.

Subitamente finda a qued...



sexta-feira, 20 de julho de 2012

Peregrinos



A peregrina deixou sua pequena aldeia ainda jovem. Disse que gostaria de conhecer o Mundo e buscar as razões do afeto e do amor em ensinamentos profundos.

Quando ela partiu, outro jovem de sua aldeia a acompanhou. O rapaz sempre a admirara ao longe, mas a ideia de vê-la partir enchia seu coração de tristeza.

No começo ela não compreendeu bem aquilo. Ele sempre guardava uma certa distância, mas estava sempre lá, zelando.

Ajudava-a na busca por comida e abrigo. Nas noites frias, quando ela sentia o ânimo de sua busca amainar e a tristeza espreitava, ele contava histórias tolas do vilarejo para animá-la.

Ele a ouvia embevecido falar sobre sua busca da Verdade e do Amor e discutiam sobre os ensinamentos deste ou daquele mestre que haviam visitado.

Enfrentavam juntos os elementos, as estradas sombrias e os salteadores.

Certo dia chegaram a uma estrada bifurcada. Ela ouvira sobre a grande sabedoria dos mestres da região e vinhera em busca de seu templo.

Separando os dois braços da estrada estava uma modesta casa. A fumaça branca saia da chaminé e na pequena varanda um senhora estava sentada.

"Senhora", disse ela, "qual o caminho para o templo?"
A velha a olhou com olhos cansados e profundos.

"O que buscas, minha jovem?"

A pergunta a pegou de surpresa. Depois deste tempo todo, não sabia colocar sua busca exatamente em palavras.

"Tantos já passaram por aqui", a velha continuou,"buscando iluminação, sabedoria, segredos divinos e tantas outras palavras bonitas".

"A senhora vive aqui há muito tempo?", ela questinou.

"Muuuittto tempo."

A velha levantou-se um pouco da cadeira e olhou por cima do ombro da jovem.

"Quem é rapaz?", perguntou.

"Acho que posso dizer que é meu companheiro de viagem"
"E o que ele faz?", insistiu a ancião.

"Ele ajuda-me com coisas práticas, como a busca por comida ou abrigo".

"E o que mais?", insistiu a grisalha senhora.

"Dividimos o conhecimento que adquirimos,ele me anima com sua histórias, alegra-me com sua canções, me mantem no caminho com sua fé em mim.

A velha levantou-se e gritou para o rapaz:

"Qual o teu nome, meu jovem?"

Ele, ainda um tanto surpreso, gritou de volta, e sua palavras ecoaram ruidosas nas montanhas.
"Aí está minha jovem"

"Não entendi", disse ela.

"Eis o nome daquilo que procuras".

A Peregrina virou-se e encarou o rapaz profundamente.

Começou a andar em sua direção e ele recuou alguns passos. Ela insistiu até estar bem perto. Olhou-o novamente nos olhos e sorrindo o tomou pela mão, puxando-o para seu lado.
Em sua pequena varanda, a velha sorriu.

"Tomem o caminho da direita, meus jovens", ela disse.
"É este o do templo?", perguntou a Peregrina.

"Na verdade os dois são. Ambos irão levá-los a coisa assustadoras e belas, mas que sempre valem a pena"

Os Peregrinos se olharam, riram saborosamente e tomaram o caminho indicado.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Vontade


Quarteto I

Sinto vontade de me encolher em uma canto
e ficar em silêncio

Vontade de me esquecer de mim
e fechar os olhos fingindo que sou amado






Calor

Fast Poetry
(pensado embaixo do chuveiro, numa noite fria e em uma casa vazia)

Resisto a sair do chuveiro
A água quente desce por minhas costas,
e lembra-me de carícias esquecidas

Lá fora o frio me espera,
cheio de perguntas não respondidas,
repleto de sentimentos solitários

Sinto o calor sútil,
o zumbido do chuveiro elétrico abafa o ronco da solidão,
e por um momento esqueço-me de minha fragilidade

Então desligo o chuveiro,
tremo por um instante
e o frio me abraça


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Paisagem

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Ele aflora de um decote preciso
Aquele colo alvamente angelical

O decote como uma janela para uma paisagem de maravilhas semi-reveladas

Montanhas paradisíacas encobertas por nuvens de tecido

Apenas um relance do paraíso,
que esconde entre suas montanhas macias e abençoadas,
o tesouro que é aquele coração selvagem transbordando poesia




sábado, 14 de julho de 2012

Templo

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E o sonho fez-se carne
Quente,
Sensual,
Viva

Com olhos que exploram minha alma
e penetram suavemente minha consciência

E o sonho fez-se carne
Alguém singular,
com toda profundidade humana em seu coração

A divindade provou sua existência,
construindo um perfeito templo-mulher

Diante deste milagre,
arrebatado por esta beleza,
estou convertido

O sonho fez-se carne,
e meus medos queimaram no fogo deste arrebatamento


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Saudadoce

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A Musa me deu mais uma palavra e a acolhi neste poeminha.


Como me sentiria se o oceano evaporasse?
E se as estrelas sumissem?

Como me sentiria se a música morresse?
E se todos os livros se apagassem?

Como me sentiria se os anjos fugissem?
E se toda beleza silenciasse?

Eu sei como me sentiria
Seria como quando você está longe de mim
e sinto uma baita saudadoce


domingo, 8 de julho de 2012

Desconexo

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Pergunto-me se ainda há poesia em mim
Será que ainda tenho algo a dizer?

Às vezes minhas metáforas parecem gastas
como ruínas de civilizações pagãs

Meus sentimentos estão cansados
como um viajante atravessando um deserto sozinho

Há dias em que o silêncio é tão grande
que não posso ouvir a poesia no fundo de meu coração

Uma saudade imensa me assola
A saudade de um sonho

Converso apenas com meu reflexo em um espelho gasto
Gasto por tantas vezes refletir a ausência de um sorriso

Mas não tenho opção a não ser tentar escrever,
porque sinto estes sentimentos em mim tão imensos

É como se o peso deles fosse estilhaçar o Universo




Permitir

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Permita-me, apenas por um momento, acreditar que você também me ama
Então a aridez do cotidiano torna-se suportável
e resistir às injustiças da vida torna-se possível

Permita-me, apenas por um momento, acreditar que você também me ama
Então tenho uma razão para sair da cama nas manhãs frias e solitárias
e haverá um motivo para as horas passarem

Permita-me, apenas por um momento, acreditar que você também me ama
Então terei certeza que minha alma está viva
e que existe razão para ter fé em que coisas boas acontecem

Permita-me, apenas por um momento, acreditar que você também me ama
porque esta esperança torna minha vida melhor
mas esta certeza tornaria minha vida plena

sábado, 7 de julho de 2012

Dizer

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Descaradamente sentimental. Este é um daqueles poemas que é uma luta para escrever.
Cheio de dúvidas e hesitação. Por enquanto considero um rascunho.


De quantas maneiras posso dizer que a amo?
Há milhões de anos-luz daqui uma estrela se torna um buraco negro
e meu amor por você é tão forte que escaparia de sua atração

De quantas maneiras posso dizer que a amo?
Neste momento milhares de pessoas dizem lutar por causas que amam,
mas meu amor por você é muito mais puro,
porque ele é pura criação

De quantas maneiras posso dizer que a amo?
Agora mesmo milhões rezam para seus deuses,
e meu amor por você é tão grande que me religa ao meu

De quantas maneiras posso dizer que a amo?
Talvez se eu simplesmente disser o quê você me devolveu?

Você me devolveu a Esperança




Noturno

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Fast Poetry
(escrito em um ônibus e num sábado)
Não me lembro realmente de um sonho como este, mas gostaria.



No silêncio noturno eu sussurro baixinho que te amo
Você vira-se suave como um pôr-do-sol outonal
e sorri calorosa como um amanhecer de verão

Meu coração repete seu nome em cada batida
e esqueço todas as minhas cicatrizes

Seguro sua mão quente sob o lençol
e encostando minha cabeça em seu colo macio,
ouço seu coração bater,
Puro,
Quente,
Corajoso

Fecho os olhos, convicto da beleza da vida,
e acordo solitário em uma noite fria e vazia

Encolho-me, assombrado pela falta que seu coração me faz,
e tento dormir em vão


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Não Chore

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Não, não chore
Não chore porque seu sorriso é a resposta para todas as perguntas

Não chore porque quando você chora os anjos se enlutecem
mas quando você ri, Deus cria novas espécies de flores

Não chore porque sua Alegria afasta o mal de meu coração
Não chore porque o sal de suas lágrimas não é digno de tocar a perfeição doce de seu rosto

Não chore,
sobretudo,
porque seu choro devasta meu espírito
mas o brilho cristalino de seu regozijo revela o sentido da beleza na vida


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Plenitude

Crédito da Imagem:


Fast Poetry
(escrito em uma quinta-feira que era apenas uma quinta-feira)

Você é o ciclo pleno
A criação,
a destruição,
a ressureição de meus sentimentos
Um desafio da divindade ao Mundo vazio
Acredito na beleza,
acredito apenas porque você me diz que ela existe

É estranho mas,
certas coisas agora fazem sentido,
certas dores agora não parecem tão profundas
Eu fico quieto,
apenas tentando sentir sua presença,
lá fora,
neste Mundo louco
E percebo agora que é por isso que existo
Existo para perceber você
Existo para sentir sua plenitude


terça-feira, 3 de julho de 2012

Pequenas Coisas

Crédito da imagem: http://nocreditstock.deviantart.com/



Fast Poetry
(Escrito em um ônibus, numa terça-feira)



Eu me agarro às pequenas coisas:
A cor profunda de seus olhos;
O ritmo poético de seus quadris;
As linhas áureas de seu rosto

Eu me agarro às pequenas coisas:
A ênfase com que você diz certas palavras;
A suavidade de seus gestos;
As estrelas que escapam de seu sorriso

Eu me agarro às pequenas coisas:
Esperança;
Sonho;
Desejo

Sou um naufrágio na vida
e não quero afundar neste oceano gelado,
então me agarro às pequenas coisas,
e nado desesperadamente

Nado tentando alcançar a ilha do seu coração